quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Letramento literário e livro didático da lingua portuguesa: "os amores difíceis" de Egon Rangel

Agora com o projeto verão começando a engrenar, pretendo colocar aqui no blog pequenas resenhas/resumos dos textos que estou lendo. O primeiro texto é de Egon Rangel e o título é o do post. Falta uma revisão da minha parte, mas basicamente é isso ai. Para encontrar o texto:

Aparecida Paiva (org) Literatura e Letramento: espaços, suportes e interfaces. Belo Horizonte, 2005 (preguiça de fazer bibliografia decente)

O objetivo do texto é discutir a relação entre leitura, literatura e o livro didático de português, sob o ponto de vista do letramento e do lugar  PNLD. 

O Autor participa de um projeto que auxilia os professores na  Escolha qualificada e uso critico do livro didático. "Pretende indicar alguns percalços que é preciso evitar e outros tantos pré-requisitos básicos que devem ser preenchidos para que o LDP possa desempenhar adequadamente esse papel" (livro didático como mediador da literatura). 

Egon Rangel começa seu texto afirmando que a leitura tem sido, de maneira geral, tratada de duas formas. Primeiro como um fenômeno cognitivo, pois são necessárias competências e habilidades para se tornar um leitor pleno. Outra maneira de se ver a leitura é como um fato histórico natural, ou seja, um resgate a certos autores, obras, gêneros e etc. A singularidade dos sujeitos não ocupa o centro da questão.

Em seguida o autor discute o termo letramento:

a) "o conjunto das formas pelas quais determinada cultura ao mesmo tempo da uma existencia social e se serve da escrita, atribuindo-lhe diferentes sentidos e diferentes funções"(pag 130)

b) " os valores - inclusive éticos e estéticos - em nome dos quais a escrita participa da vida social, assim como os diferentes graus de intensidade dessa participação"

c) "os padrões diferenciados de distribuição e circulação social da escrita"

d) " os diversos padrões e a intensidade variada com que a escrita participa do cotidiano e do imaginário dos sujeitos.

Nessa abordagem, é "necessário perceber a leitura como uma articulação entre as funções da escrita, valores a ela associados, formas de existência e de circulação social dos textos, efeito de sentido decorrentes dessas condições e implicações subjetivas para os sujeitos" (pag 131).

Ele lembra que para muitos brasileiros o livro didático tem sido quase que exclusivamente o único acesso a ao mundo da escrita e que, portanto, ele é indissociável das nossas concepções de leitura, de literatura e de cultura letrada. Ele afirma que os problemas metodológicos apontados por Marcuschi na condução das atividades de leitura são co-responsáveis pelas inadequações e deficiências de leitura apontadas por avaliações oficiais como SAEB e PISA, além das dificuldade pessoais.

Aponta um quadro da leitura atualmente: de um lado, temos os livros produzidos por um grupo restrito de pessoas, com uma pequena tiragem e uma pequena circulação. Do outro lado, lê-se em poucas ocasiões e com objetivos mal definidos, com a compreensão prejudicada pela falta de entendimento. 

Ele também afirma que o trabalho com a diversidade de gêneros e tipos textuais diferentes prejudicou o texto literário.

A formação do leitor literário visa "formar um leitor para quem o texto é objeto de intenso desejo, para quem a leitura é parte indissociável do jeito de ser e de viver". (pag 138)

E a relação com a escola? "Soares e outros pesquisadores já diagnosticaram que a escola e o LDP têm significado um tropeço na apresentação do mundo da escrita á criança e um veto a fruição na leitura e à formação do gosto literário" (pag 138) (Texto da Magda Soares: A escolarização da leitura infantil e juvenil; In: A escolarização da leitura literária. Aracy Evangelista).

O autor afirma que o texto literário é indispensável para o ensino/aprendizagem da leitura e da escrita e que não deve ser vetado ou minimizada em virtude dos outros gêneros trabalhados na escola.

De acordo com o autor, é preciso que os LDP marquem no próprio livro a dimensão constitutiva dos cânones e das tradições literárias, cuidando para que a seleção dos textos não seja meramente didática, mas também com critérios relacionados à relevância e ao significado literário dos textos e de seus autores. "Iniciação programada aos cânones literários; é necessário estabelecer por onde começar, os caminhos a serem percorridos, as obras e autores imprescindíveis, as abordagens mais adequadas." (pag 140) 

Considero essa ponderação do autor muito radical. A idéia de linearidade literária me parece tão incorreta. É importante que aconteça uma seleção dos textos a serem trabalhados na livro didático, e essa seleção deve ser criteriosa e atender aos objetivos propostos, mas fazer tudo isso para a leitura de cânones literários me parece um desperdício de tempo. As pessoas devem ler o que elas querem, o que lhes convêm, o que for de seu interesse, e não ler apenas porque é um clássico, ou por que o autor fulano de tal é muito conhecido. Isso pra mim é ser show off, querer se mostrar para os outros. Não quero desmerecer os clássicos, mas que isso se torne o objetivo central do letramento literário me parece uma pretenção enorme, uma desconsideração da individualidade dos sujeitos, como se todos fossem programados para gostarem das mesmas coisas, na mesma intensidade.

Em seguida o autor apresenta um pequeno resumo das considerações que Soares faz em seu texto já mencionado. Ela cita as inadequadas escolarizações da leitura literária. Recomendo ler o texto, que é muito bom. 

É importante fazer um resgate da literatura. Se o texto é uma paródia, deve-se procurar o texto original, se faz referências a outros livros ou textos, é necessário que eles  sejam mencionados ou explorados na sala de aula. Para o autor, apenas dessa maneira será possível formar um verdadeiro leitor.

O autor considera que uma parte essencial do trabalho é a escolha adequada do livro didático e o planejamento para o melhor uso possível do mesmo.

Apesar de uma defesa clara dos cânones, o autor destaca no final do seu texto que além do conhecimento de autores e obras consagradas também é preciso fazer referência a outros livros  e estimular a sua leitura. Apenas dessa maneira será possível formar o gosto por ou o leitor que quer ler tudo de. Para alcançar esse objetivo é necessário que as bibliotecas escolares tenham um acervo grande e diversificado de obras, que as técnicas de catalogação e armazenagem sejam adequadas e que a escola promova a biblioteca como um lugar de prática cotidiana. Acrescentando-se uma opinião minha, é também necessário que os funcionários da biblioteca estejam realmente capacitados para trabalhar neste local e ajudar os alunos em suas demandas.

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